)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nossa Valsa N° 6



Eu e meus queridos companheiros de valsa fizemos nossa estreia. Não foi bem uma estreia. Na verdade, não sei o que foi aquilo. Em apenas dois dias de antecedência ficamos sabendo que apresentaríamos e terminamos de fazer a marcação das cenas de metade da peça. Imaginem, leitores, atores, sonhadores, amantes da valsa n° 6, apresentar uma peça sem ensaio geral, testando as falas e marcações apenas na própria apresentação... E, ainda, para os jovens alunos do SESI Ribeirão como entretenimento.  
Um pouco antes do início, já com os figurinos, o caos era geral. Todos gritavam, tentavam ensaiar as "quase-recém-marcadas-cenas", decorar falas ainda não decoradas, tentavam se concentrar... Não me lembro quantas vezes berramos e brigamos uns com os outros. Quase chorei. Percebemos que o teatro havia começado. Meu grupo iria atuar apenas o segundo ato, pois o primeiro era dos alunos que frequentavam o curso pela manhã. O desespero se multiplicou, mas tentamos nos acalmar. Juntos, fizemos alguns exercícios de voz e dicção que aprendemos em aula e exercícios de concentração. Achei interessante a união que surgiu naquele momento. Afinal, bons ou não, estávamos juntos nessa: no sucesso e no fracasso.   
Nos posicionamos nas entradas do teatro, pois nosso segundo ato começava entrando da platéia: sensacional! Atrás das pesadas portas ouvíamos os ruídos do palco. Cochichávamos ansiosos. Rezamos. Repassamos as falas baixinho. Até que a última frase foi dita, era a nossa deixa. Após nossa entrada triunfal da plateia, o teatro continuava. Enquanto alguns estavam em cena, eu e os outros nos abraçávamos desesperados, era tomate podre na cara na certa! A minha cena se aproximava. Era uma cena, de certa maneira, um pouco longa, em que eu encenava sozinha: apenas eu e o público, o público e eu. Suava frio, pernas bambas, um desespero incondicional! Tive vontade de abandonar tudo, sei lá... Muito medo. Mas chegara a hora. Ou eu entrava, ou... eu entrava! Eu não tinha medo do palco, tinha medo da falta de ensaios... Medo de esquecer as falas... Medo de passar ridículo... Mas uma vez uma amiga me disse que ser ator é, justamente, não ter medo de passar ridículo, afinal, não é você que será decapitado por um tomate fedorento, e sim o personagem! Porque não lembramos dessas coisas quando mais precisamos?! Oh, vida cruel!
Ainda no último segundo na coxia o medo e a tensão lideravam meu corpo e pensamentos. Porém, assim que pisei no palco, eu juro, o medo se foi dando lugar à uma sensação maravilhosa. Não tive mais medo nem receio de nada, as cenas iam fluindo naturalmente e as falas eram simplesmente ditas. Eu apenas fiz aquilo que gosto e isso, obviamente, não é sofrimento nenhum. Então me lembrei de "A Flauta Mágica" onde a sensação de estar no palco era a mesma. Por um momento, durante minha cena, alguns dos jovens alunos na platéia empestiaram o ambiente com risinhos infantis. Estranhamente não me deixei intimidar, e continuem minha cena ignorando-os. Está aí o problema em impor entretenimento à crianças, a felicidade em seus rostos se encontrava por estarem "matando aula", e não por admirarem o árduo trabalho de jovens e sonhadores atores. 
Todo ator ou amante do teatro sabe que as apresentações em si passam extremamente rápido se comparadas aos ensaios, e na Valsa N° 6 não foi diferente. Quando meus momentos de êxtase no palco acabavam e eu retornava à coxia, o personagem desaparecia e eu, emocionada com a vitória nas cenas sem erros, abraçava meus companheiros. Mas a ansiedade retornou quando a parte sem ensaios se aproximava. A  peça ia correndo e, durante a temida parte sem ensaios, incrivelmente não houveram erros. Entretanto, durante o diálogo de alguns personagens, que era a deixa para um "berro" meu, os risinhos se destacaram novamente. Um dos meus amigos que estava no diálogo ficou incomodado e não disse sua fala... Eu não sabia o que fazer, mas no palco eu nunca penso... É estranho! Quando vi que ele não ia falar eu dei o meu "berro" e depois ele me agradeceu. Conto isso para que vocês, leitores, fiquem do meu lado na importante causa de que teatro e arte só deve existir como entretenimento para "aqueles que estiverem interessados"!!!
Enfim! Essa foi nossa aventura. Parece que vamos apresentar mais vezes: com mais tempo de antecedência e com mais ensaios. Gostaria de agradecer aos meus queridos amigos de valsa e de teatro por essa fantástica experiência.  Continuarei postando curiosidades e informações sobre a Valsa N° 6, sobre o autor da peça Nelson Rodrigues e, claro, sobre minhas sensações, experiências e ideias sobre uma das artes mais lindas do mundo: o teatro.



Leia também:

Fique sempre atualizado!
Cadastre-se e receba nossas novidades em seu e-mail.
Widget by MundoBlogger Instale este widget