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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cores


Durante o sono cerrado, o velho começou a ver cores. Mas não cores quaisquer... As cores que, quando criança, via nas fotos antigas de sua avó. Estranho, pensou. As cores foram se misturando, criando uma forma meio psicodélica que, estranhamente, se assemelhava a ele. As cores tinham uma fragrância. Desconhecida. Não, ele já a sentira antes. Meio doce meio amarga. Ardida. Ou ardida. Parecia uma espécie de doce cítrico. Esse cheiro era uma explosão. Logo, todos os seus órgãos cheiravam desta maneira. Com cores, sabores, sons. Sons? Menos, o coração, claro. O coração não cheirava, ouvia. Uma música muito ruim, por sinal. Clássica. Mozart. Mas ele gostava. Não ele, o coração. Aquele que ouvia era incolor... Os outros, preto e branco... Manchados! Manchados, não, malhados, pintados. Catapora? Então, viu-se sentado sobre uma maca hospitalar. Nu, porém coberto. Acabara de ser operado. Apesar do sono pesado, ouvira o médico conversando com a enfermeira. O paciente havia levado um tiro. Na cabeça. Não, no peito. Ou melhor, no coração. Mas os profissionais haviam detectado outros problemas de saúde. Seus órgãos. Órgãos? O que tem os órgãos? Pareciam uma explosão. Uma mistura de cor, som e odor. Entranho muito estranho, pensou. As conversas sumiram. Mas ele ainda estava na maca. Com os olhos fechados. Parecia dormir, ou melhor, sonhar. Sonhar com cores.

BiaBloom

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